domingo, 30 de abril de 2017

Cheiro de roupa limpinha com mente suja

Ele tem um sinal bem pertinho do umbigo que é meu preferido dentre os 68 sinais da barriga e ombro que consegui contar. Na verdade são três pontinhos próximos um do outro que eu poderia pegar uma caneta permanente e ligar os pontos como quem liga as estrelas do céu com o dedo.

Eu estou a olhar ele de cima e ele está com os olhos fechados a espera da minha próxima ação enquanto toca The XX na playlist do Spotify. Ele tem cheiro de sabonete Dove impregnado no ombro, mas o corpo inteiro tem cheiro de roupa limpinha. Ele tem cheiro de roupa limpinha com mente suja e eu quero rasgar ele inteiro...

Eu continuo por cima a observar quantas vezes ele sorri quando abre os olhos e me olha. Acho que ele gosta da minha companhia. Não como gosto da dele, mas ele consegue me fazer sentir em casa em um abraço ou enquanto a gente dorme juntos com ele respirando no meu pescoço.

Se não soasse tão metafórico eu diria que a pele branca dele brilha vista de onde estou. Sem contar a maciez dela que sinto na ponta dos meus dedos enquanto escorrego pelo corpo inteiro até sentir os pelos arrepiarem. Eu queria ter uma câmera pra fotografar esses momentos e repassar quando já estivesse na minha cama quentinha depois de um final de semana com ele, mas a memória fotográfica é foda, ela capta e passa e repassa e volta e dá replay como quem volta a cena de um filme favorito...

Mas meus amigos, não se enganem... A paixão te deixa mais criativo pra contar histórias mas também um bocado perdido.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Eu preciso saber

Ele ia beijar ela bem na hora em que apareci na sala. Quando eles me viram se assustaram e mudaram de assunto. Eu fiquei parada ali olhando pros dois porque se mover, respirar ou mexer o cabelo parecia sacrificante demais. Mas o pior já tinha acontecido, eu tinha entendido a situação.

PUTA QUE PARIU! Era um pesadelo. Olho pro despertador, são 7h da manhã de um sábado. É a terceira vez na mesma semana em que sonho com isso. Tem algo acontecendo e eu preciso saber.

Entro no whatsapp e a última visualização foi às 4h35. Tem algo errado, sério, eu consigo sentir daqui. Entro no facebook e as últimas coisas que ele postou foram sobre política e o mestrado que vai fazer. Entro no Snap e não tem uma atualização. No Twitter ele não posta nada há 3 semanas, desde quando terminamos. Não é possível. Eu preciso saber o que tá acontecendo.

Mas pra quê? Vocês terminaram, não terminaram? Resolveram seguir caminhos diferentes, não resolveram? Não tô nem ai, se ele tá com aquela piranha eu preciso saber. Vai machucar. Mas eu preciso saber.

Ligo pra uma amiga. O que estás fazendo me ligando a essa hora? Achas que ele tá com alguém? Ele quem, menina? Ele. Acho que não, ele não tem saído de casa. Achas que ele tá com ela? Para com isso, não precisas saber. Eu preciso.

Fumo um cigarro. Pego o carro. Não sei pra onde eu vou, só preciso sair. Escuto Chet Faker pra me acalmar, mas nada. Eu preciso saber.

Alô? Mãe? O que foi, filha, aconteceu algo? A senhora acha que ele tá com alguém? Não acredito que estás me ligando pra isso, vocês terminaram! Mas a senhora acha? Não sei, não.

Meu coração tá palpitando. Não tem cigarro nem Chet Faker que me acalme porque eu sei que tem algo acontecendo. E eu continuo querendo saber. Eu preciso.

Vou ligar pra ele. Não! Vou sim. Disco o número desse infeliz. Ele não atende. Droga! Ligo de novo. Ele atende com voz de sono. Estás com alguém? Uhum. Estás com ela? Uhum.

Tá.

Volto pra casa destruída. Quero fumar todos os cigarros, ouvir todas as playlist do Chet Faker pra ver se me acalmo mas não consigo pensar em nada a não ser em tudo.

Depois de todas as possibilidades de ser imbecil, ouvir músicas, escrever textos e fazer de tudo para saber e saciar uma dúvida a qual eu tinha certeza de que a resposta só me faria mal, entro no quarto começando entender o que realmente aconteceu.

A única coisa que eu não consigo entender é porque faço tudo isso comigo por medo do tédio.



segunda-feira, 9 de maio de 2016

Ei, rapaz

Rapaz, sente aqui do meu lado, vai, não finja que não me conhece porque você me conhece. Você me conhece muito bem. Aproveite e me sirva um copo de cerveja sem o colarinho, do jeito que você sabe que eu gosto. Não me faça pergunta difícil onde vamos comer porque você sabe qual o meu lanche preferido do Mc Donald’s.

Me conte sobre seus cursos online que contam como passatempo pra você ficar em casa num sábado a noite. Fale comigo carinhosamente e diga que você precisa me ver digitando porque isso te conforta. Me mande algumas músicas novas, pode ser sertanejo ou alguma que eu não conheça, não tem problema, se você lembrar de mim com a letra está tudo certo.

Quando eu chegar na sua casa me prepare um misto quente com coca cola e gelo, do mesmo jeito que você fazia nos velhos tempos quando eu chegava do trabalho e tomava um banho de água quente e depois vestia uma roupa sua, enquanto sentava a mesa esperando meu lanche, que nem aquelas criancinhas que precisam de pouco pra ser feliz.

Vamos pegar uma roupa na sua casa e os novos filmes que você baixou. Deixe pra tomar banho no meu apartamento, lhe entrego uma toalha com o meu cheiro pra você se sentir confortável. Pode deixar que vou fazer pipoca pra gente assistir no escuro do meu quarto. Ah, já ia esquecendo. Não passe gel no cabelo, te quero do jeito natural porque você é lindo assim.

Rapaz, hoje é sábado, já são 5 da tarde e o céu está lindo alaranjado. Vou trocar de roupa bem rápido e vou até você porque estou com uma saudade doida, apesar de ter visto te ontem pela manhã. Me receba com aquele cheiro de desodorante que eu amo e aquele cheiro de sabonete que é simplesmente a sua cara. Já consigo imaginar você me recebendo no portão sem blusa.

Não se preocupe, estou tensa mas não vou puxar um cigarro, você já conseguiu me acalmar e agora eu já sei o que fazer porque, como sempre, você sempre me faz enxergar as coisas com outros olhos. Peça meu sorvete, eu quero de Ovomaltine, vou pegar uma mesa pra gente. Te espero lá. Não demore tanto, já estou com saudade.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Adeus você, eu hoje vou pro lado de lá


“É tão estranho, os bons morrem jovens.”


Luz pra ti, garota. És tão iluminada que lembro de quando chegavas e dizias “enche meu copo que agora vou falar de amor”, tua energia clareava todos os sorrisos, até os desconhecidos.

É estranho te ver partir. Lembro que em algumas conversas dizias que tinhas vontade de ir pra ver se realmente eras querida. Baby, vi pessoas chorando de saudade precoce de você. Até aquele teu primeiro amor de quando tinhas 15 anos.

Sabe, te olho daqui e vejo que até a morte te cai bem, porque estás linda. O teu cabelo alaranjado parecido com o meu destaca o branco do teu rosto, já falei isso alguma vez? Agora estás mais pálida, porém mais bela ainda. O contraste do batom cor de vinho ficou elegante, gostei, certeza que irias tirar mil fotos sorrindo com ele. Tu és muito bonita. Até dormindo. De qualquer jeito. Mesmo naquele dia, lembra, que dormiste bêbada em casa e acordaste vomitando, o cabelo todo bagunçado? És bonita até chorando com o nariz e sobrancelhas vermelhos e as marcas de espinhas inflamadas enquanto fumavas um cigarro.

Põe mais uma tatuagem na conta. Vou transcrever a frase que representa essa tua urgência em querer viver tudo intensamente sem deixar passar nada. O Chorão tinha razão, “vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo”. E que pouco tempo me tiveste aqui, baby, você existiu mas você viveu?

Eu tenho certeza que sim.

Vê bem, garota, te proíbo de não vires me visitar em sonhos. Sabes que sempre tivemos cisma com sonhos ao procurar respostas e significados neles. Duas idiotas.

Vem me ver, vem me dizer como é o céu, se é bonito, se estás mais feliz como querias, se é entediante ou se já fizeste amigos. Conta tudo. Faz aqueles teus relatórios diários que fazias quando me trazias novidades. Só de ler conseguia te ouvir falar no meu ouvido, te via na minha frente rindo, fechando os olhos enquanto davas mais um trago no cigarro, a la Paola Bracho.

Agora mesmo te escrevendo me veio teu cheiro de One Milion, nosso perfume favorito, quer dizer, antes de teres enjoado. A impressão que tenho é que a qualquer momento vais entrar pelo meu quarto tirando a calça, blusa e tênis, e chorar muito puta porque algo não saiu como o planejado.

Vais ficar com raiva e depois de alguns minutos ou alguns meses vais rir com aquele soluço no final porque és assim... Fazes merda, as pessoas vacilam contigo e depois de algum tempo dás risada até chorar.

Baby, lembro que em algumas conversas te questionavas se as pessoas sentiriam tua falta se te fosses. Embora fosses uma pessoa alegre que todos queriam por perto e ao mesmo tempo de uma personalidade forte ao ponto de afastar as mesmas pessoas, no fundo tinhas uma tristeza no teu peito que só eu conseguia ver. Mas a resposta é: consegues marcar a vida dos que te rodeiam de tal forma, que é como se ainda estivesses aqui.

Ontem mesmo conversando com os nossos amigos, alguns chegaram a imitar o teu jeito de dizer “tu é doido é, mano?”; como acendias o cigarro; a tua expressão quando ficavas com raiva e abria o nariz ou quando iam te fotografar e levantavas uma sobrancelha de modo que ficasses mais sexy. Rimos muito.

Não faça mais isso nas próximas vidas, tá bom? Não te vais assim, do nada, sem avisar. Prefira ser feliz a ter razão. Sempre. Te amo.


Adeus, você.



Thais Gentile.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Medo de quê?

Então chega uma nova mensagem no meu celular. É ele. Me convidando pra sair. Não respondo imediatamente, primeiro penso se tenho algo marcado com alguma amiga. Me pergunto se vou à casa da minha mãe lhe fazer uma visita. Do meu pai. Nada, não tem nada marcado.

Depois de 15 minutos eu respondo positivamente deixando de lado, lá no fundo do meu inconsciente, que eu jamais teria algo marcado com alguém se não fosse ele me convidando pra sair. Acho que ele sabe disso porque toda vez é a mesma história, mas no final nós dois sabemos que a resposta será "ok, vou te esperar".

É muito infeliz ser sozinha, entende? Chegar na sexta-feira à noite e você abrir uma garrafa de vinho mas não ter com quem dividir. Não vale chamar ele, já que nossos encontros são sempre três vezes na semana e sexta não inclui na rotina. É muito infeliz chegar perto da hora de dormir e apenas tomar banho e ler um livro até o sono chegar, e não ter ninguém pra dizer "boa noite, até amanhã".

Esse amanhã me parece tão longe quanto meu aniversário, tão futurista quanto a ideia de comprar meu próprio apartamento.

Eu respondo "sim, vou te esperar", mas não que eu seja fácil ou alguma idiota. Não que ele me tenha nas mãos ou que eu não tenha amor próprio. Todo esse drama sem sono e que nunca dorme é só medo de ficar sozinha. E só quem já se sentiu sozinha mesmo rodeada de pessoas vai entender o que tô falando.

- Ok, vou te esperar.





Thais gentile.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

As possibilidades de ser idiota

Eu ainda cheguei a discar os dois primeiros números dela. Mas depois desliguei. Fui no whatsapp e ela tava online... Vi fotos dela fumando, andando em má companhia. E só. Mais nada. Nenhuma indireta, nenhuma ligação perdida no meu celular, nenhuma mensagem de madrugada, absolutamente nada. Não sei de mais nada da vida dela. Vadiazinha! O que ela pensa que tá fazendo?

Mas enquanto isso, continuo a ver o rosto dela em todos os malditos lugares que eu vou. É sempre o mesmo cabelo castanho na raíz e loiro nas pontas, sempre a mesma armação de óculos preta de atriz pornô sexy... Será que tô ficando louca? Será que ela tá me deixando louca?

Quando chego em casa e tomo banho, ouço ela rindo do lado de fora do box, toda encolhida, parece um gato com medo, dizendo que não vai entrar porque a água tá muito quente. Pára de frescura, garota, entra logo! E ela gargalha... Mas que merda infernal de risada gostosa que essa menina tem, meu Deus do céu! Olha só o corpo dela nu como é... Lindo! Toda bem feitinha, toda fininha. Dá vontade de colocar ela na cama, debaixo do edredon e desligar a luz pra gente dormir juntas. Quero adormecer cheirando o cabelo dela e o resto do perfume no pescoço que não saiu nem com o sabonete. É um cheiro que só ela tem, coisa de mulher que trabalha o dia todo e mesmo se suar, não fede. É um cheiro que eu posso sentir até na parada no ônibus. Foda-se. Eu vou reconhecer.

O que foi que aconteceu com a gente, hein, garota? Olha aqui pra mim. Nos meus olhos. Deixa de marra, sério, e larga de ser orgulhosa. Olha pra mim! Tu me amas?

Amo.

Eu também.

Vou na cozinha comer alguma coisa que é pra ver se ela sai 2 minutos da minha cabeça. Enquanto como pão com coca-cola, ela tá estudando na mesa. Tem um trabalho importante pra terminar. Se eu fechar os olhos consigo ver ela do mesmo jeito com a cara que tô vendo agora. Quanto mais concentrada, mais sexy. Quanto mais preocupada, mais vontade me dá de ligar pra ela e dizer que tô vendo ela aqui na minha frente mesmo sem estar. Tô morrendo de saudade.

Diz que me ama, bora.

Te amo.

Muito ou pouco?

Muito!

Beija

Beija

Beija

Nós somos duas idiotas, não é mesmo? Sim, somos. Até pra brigar somos bem idiotas. Sem falar dos xingamentos. Uh! Que idiota! E esse orgulho todo, hein? Idiota também? Hum, nem me fale, passa dez vezes na fila do quesito “idiota”. E essa capa toda que a gente faz pra ferir uma a outra? Idiota. E essa falta de atitude? Idiota. O que falar sobre a iniciativa que eu deveria tomar (mas engulo com areia) pra eu não te perder? Idiota. E esse meu rancor vazio, mesquinho e infantil? Idiota. E se eu sair pra beber com minhas amigas pra te afrontar? Idiota. E se eu discar teu número e desistir antes de começar a chamar? Idiota. Eu quero te mostrar como sou má e consigo não me importar. Idiota. Eu quero bater na porta do teu apartamento e dizer que te odeio. Idiota. Eu vou passar por ti e fingir não te conhecer. Idiota. E se eu mostrar que tô feliz sem ti hein, loirinha? Idiota.

E se eu continuar fazendo de tudo pra te perder e conseguir?

Hum, espera um pouco. Tô calculando quantas vezes mais consigo ser idiota.

Idiota.


Ei, amor, não faça isso. Vem aqui, vem.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Você merece um texto meu

Uma vez você me deu o trecho de uma musica e eu disse que faria um texto pra você com aquela frase. Você merecia um texto meu. Um texto do bem. Porque na verdade, quando escrevo, ou vou mentir e exagerar nas descrições ou vou simplesmente escrever coisas irreais, depois de uma decepção amorosa em que me encontro fodidassa.

Você merecia um texto meu com palavras verdadeiras e nada exageradas e zero por cento utópicas porque estar com você era real, não era uma coisa que eu simplesmente imaginava ao descrever. Você era real com seu perfume que cheirava a talco, com seu beijo meio doce com um pouco de gosto de cigarro e pelo jeito que me olhavas como quem diz pelo olhar que ta pensando mil coisas. Você merecia um texto meu.

Quando você disse pela primeira vez que eu era demasiadamente sexy, ou quando depois do nosso primeiro beijo você me acompanhou ao ir embora segurando minha mão, ou quando você afirmou estar apaixonado por mim, ou quando você disse que tava gostando de mim a cada dia que passava, ou quando você falou da forma mãos sincera que já vi em poucas vezes na minha vida, que eu tava te fazendo um bem danado, ou quando você pediu minha opinião sobre investir na gente. Como se investe na pessoa? Você merecia um texto meu.

Mesmo fazendo tudo certo pra me perder. Porque detesto caras românticos e verdadeiros demais. Detesto caras que se importam e demonstram demais. E você, por obras suas mesmo, decidiu seguir toda a linha de raciocínio contraria que não faço questão em um cara. E você merecia um texto por isso também. Porque ao invés de me fazer chorar, você me fazia sorrir. Ao invés de sumir, você surpreendia. Ao invés de dizer que não dava pra me ver, você perguntava a que horas eu ia te ver...

Como se sofre numa situação dessa? Como eu iria escrever um texto totalmente verdadeiro sem usar meus artifícios mentirosos? Como eu iria escrever sobre jogar o jogo da amarelinha, onde se você perdesse me ganharia e se eu ganhasse você seria meu, se já demonstrávamos ser um do outro? Como você queria que eu te entregasse um texto se eu não estava sofrendo porque estavas me fazendo um puta bem? E depois pensei, você merecia um texto meu por seres verdadeiro como quase nenhum outro carinha foi comigo.

Mas pera... Você não foi totalmente verdadeiro. Você foi embora sem ao menos me avisar para que eu pudesse me preparar. Você mentiu quando disse estar apaixonado, sumiu e nem se despediu. Agora sim você estava começando a seguir a linha de raciocínio dos caras que eu gosto. E mesmo assim deixei em branco, nenhuma frase sequer. Eu não sei porque exatamente não tinha escrito um texto pra você. Ate hoje. Acho que eh porque senti teu cheiro em algum lugar e percebi que você realmente foi embora. Que você, assim como todos os outros caras, mereceu um texto meu.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Delírios de febre e outras drogas

To com tanta febre, mas tanta febre, que sinto meu corpo inteiro tremer de frio. Maldita virose, maldita segunda feira! Sinto que a qualquer momento o termômetro pode explodir avisando que to com 50 graus porque 40 não pode mais ser o máximo...

Quando finalmente to cochilando sob efeito do remédio, sinto um cheiro de perfume forte no meu quarto. Ei, não, pera, eu conheço esse cheiro. Fazendo um puta sacrifício, viro de costa e o vejo na porta com um ar preocupado. Fala sério, nunca o vi preocupado com nada. Só lembro dele com soluções na ponta da língua ou sorrindo despreocupadamente. Queria expulsar ele dali porque eu tava sem maquiagem e meu cabelo devia tá super oleoso, mas antes que eu pudesse gritar, só senti o corpo frio dele envolvendo o meu por debaixo do lençol. De repente nossas temperaturas estavam equilibradas e nunca na minha vida inteira me senti a vontade por estar doente.

Ele comentou que andou lendo os textos do meu blog e ficou espantado com a quantidade de caras diferentes que eu fico e escrevo sobre eles. Mas que burro, tem a observação no meu perfil dizendo que pra variar, ainda sou mentirosa. De qualquer forma esse cara só pode ser muito imbecil em não prestar atenção que em todos os textos que invento, de alguma forma encaixo ele nas minhas descrições. Idiota.

Consigo sorrir porque ele ta demonstrando um ciúme bem disfarçado. E depois me conta como foi o dia no trabalho, das soluções que ele teve de tomar e diz que é péssimo em solucionar. Na verdade ele sempre foi incrível com essas coisas...
Conversamos por mais de uma hora. Queria ficar doente todos os dias pra ele aparecer na porta do meu quarto e deitar comigo na minha cama e diminuir um pouco minha temperatura. Queria ficar doente todos os dias pra perceber que ele fica preocupado comigo, porque ele nunca fica. Ou nunca demonstra, sei lá. Porra, será que sou carente? Odeio gente carente.

Mas aí ele se despede, são quase 23h. Visitas assim são sempre bem vindas pra melhorar a febre. Ele da um beijo na minha testa e diz pra eu ficar boa bem rapidinho porque ele decidiu que me prefere tagarela do que caladona. E se vai... Adeus, cara, sou apaixonada por ti, pode vir me ver sempre porque é simplesmente impossível eu enjoar de ti e desse teu perfume, tá bom??

Cara... Eu já tinha ouvido dizer que febre faz delirar, te faz imaginar coisas como se tivesses vivendo aquilo. O efeito do remédio demorou mais de uma hora pra fazer efeito pra eu dormir.

E essa foi a primeira vez em que delirei com febre.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Não sei o que te falar, cara.

É muito provável que ela já esteja andando só de toalha pela sua casa após sair do banho, assim como deve ser quase certo que ela também já troque de roupa na sua frente enquanto você a espera. Ela deve passar de carro pra te buscar pra lanchar porque você chegou do trabalho cansado demais e não quer dirigir, ou deve fazer um ovo mexido com farofa se você pedir com aquele jeito de garoto maroto.

Tá, eu sei que você deve estar bem. Você não vai precisar contar de 0 a 10 pra ter um pouco mais de paciência com ela. Você provavelmente não vai busca-la bêbada na festa como um pai louco de preocupação e também não vai precisar ignorar esperando passar o xilique que eu sempre dava. Acredito também que você não vai esquentar a cabeça quando ela disser que já está indo dormir, afinal, você confia nela como nunca confiou em mim.

Mas sabe, cara, apesar de todas as diferenças existentes entre eu e ela e a nossa idade, tenho certeza que você não vai ser tão jovem quanto foi comigo. Lembra daquele dia depois da minha aula que fomos a um bar e te obriguei a tomar uma dose de tequila com direito a sal e limão? Você disse que aquilo era coisa da garotada de 20 anos. Mas você bebeu. E pediu a segunda, terceira e quarta dose. Ela não vai te desafiar a fazer coisas diferentes. Ela vai te acompanhar no teu copo de cerveja e conversar sobre trabalho. Duvido muito que ela te peça pra levares ela pra andar de patins enquanto andas de bike. Ela vai chegar na tua casa e ficar vendo a novela, pra seguir teu dia a dia monótono. Quando vocês transarem ela vai fazer tudo certinho pela experiência de homens que ela deve ter; em nenhum momento vais rir por alguma coisa engraçada ou inusitada que ela fez, como fazias comigo...

Aposto que não vais ajudar ela a criar uma ideia pro trabalho da faculdade, afinal ela é formada, pós- graduada e sei lá o que. Não vais perder uma noite de sono ajudando a escrever um texto pra entregar no outro dia pro professor valendo 5 pontos, e ver que eu tirei os 5 pontos e que foste tu que me ajudaste a não ficar de recuperação.

Não sei o que te falar, cara. Não sei se vais curtir tanto os momentos de vocês dois como curtiste os nossos. Nos permitimos a vida um do outro, nos apaixonamos pelas diferenças um do outro. Ela pode ser bem mais velha e madura que eu, e ainda assim, quero ver se ela vai te surpreender como tu mesmo te surpreendeste enquanto estiveste comigo.


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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sobre contagens

Você sempre disse que eu deveria me virar sozinha porque você se virou sozinho sempre. E sobreviveu. Você dizia isso de forma desafiadora me pegando pelo braço e me empurrando pro sofá enquanto metralhavas verdades sobre a vida, mas de forma assustadora. Eu não gostava desses momentos, na verdade eu fugia deles, mesmo sabendo que você era a única pessoa que me fazia pensar sobre o assunto depois.

Engraçado, eu poderia te colocar no topo das pessoas com quem eu poderia contar, mas nunca pensei em contar com você. Contar com você é muito difícil e complicado porque vês só o lado ruim das coisas, nunca o bom. Você sempre consegue extrair a parte negativa de algo positivo e eu sempre morri de medo de compartilhar as coisas com você porque sabia que de um jeito ou de outro você ia falar alguma coisa que me deixasse pra baixo e pensasse em desistir.

Você nunca, nesse tempo todo, cantou vitória comigo, nunca disse que tava orgulhoso de mim, nunca me levou pra lanchar pra comemorar algo que tenha sido mérito meu. O máximo que recebi foi um “parabéns”, ou o pior das hipóteses... “fizeste mais que tua obrigação”. Você nunca, nesses anos todos, perguntou o porquê de eu estar triste, nem quando fui parar no hospital pelo mesmo motivo. Você sempre só ressaltava que eu não tinha problema nenhum com nada, nem tentava entender os possíveis pequenos problemas que passei a ter. E eu também nunca fiz questão de dizer UM pra você.

Porque eu tenho medo de você. E sentir medo não é bom. Trava a pessoa. E eu sempre fui “travada” com você. E é só por isso que no fundo, no fundo vamos continuar sendo dois estranhos. Você diz que me conhece e isso me soa quase irônico porque jamais acertarias alguma atitude minha em determinada situação. Porque você nunca conheceu de perto meus erros e acertos. Minhas derrotas e vitórias. Você nunca entendeu meu medo de baratas, nunca conheceu meus amigos, nunca me levou e buscou numa festa, só me criticava por elas. E é só por isso, pai, que um dia farei questão de ter filhos pra fazer o certo o que você faz de errado comigo.